quinta-feira, 13 de maio de 2010

A escaladora de palavras


Faz alguns minutos vestidos de horas que o papel amarelado, envelhecido e de linhas lilás e vermelhas refletem seus olhos curiosos de criança. Não pensa em nada. Nem consegue e nem gostaria. Apenas o silêncio frio e branco da folha traz conforto suficiente para que ela permaneça alguns minutos de horas ali.
Ouve vozes. Pensamentos falados de alguém ocupado o suficiente a ponto de falar sem  querer, apenas palavras soltas no chão com tanta delicadeza que ela mal consegue saber seus sentidos. Ela nem se deu ao trabalho de erguer a cabeça pra saber do que se tratava. Seria um pecado quebrar o encanto dos minutos brincando de horas.

O silêncio confortável, frio e branco se quebra diante da dança que seu lápis negro de ponta caseira faz sob a folha virgem dando vida, algo bem melhor de se lembrar do que o silêncio.
As palavras vão se amontoando na sua cabeça, sufocando-a e fugindo de seu domínio.
Ela escala as palavras com dificuldade e demora. Na metade das vezes inteiras ela as vence.
A devoradora de livros espera por ela, ávida e urgente como sempre, este que seria o prato principal. 


Bom apetite.

                                                                                            Cibeli Marques Pimentel

Nenhum comentário:

Postar um comentário